"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas...Continuarei a escrever" - Clarisse Lispector

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Como muitos outros





Como muitos outros


Pedro era um garoto mulato, pentelho e folgado, como muitos outros que andavam pelas ruas de Salvador. Mais uma vez passeava pelo calçadão em frente a praia, as mãos no bolso, assobiando e chutando uma pedrinha. As pessoas à volta não lhe davam atenção, afinal era normal garotos na idade dele matando aulas.

Entediado por mais um dia comum, começou a olhar para os lados distraído. E assim acabou vendo-a, caída no chão, uma nota de dez reais novinha em folha. “Caracas, que bonita!” Apanhou-a, sentindo que seu dia melhoraria.

Primeiro pensou em comprar doces, mas depois se arrependeu. “se a vida lhe dá limões, faça uma limonada.” Finalmente o ditado que o professor dissera começara a fazer sentido. Já até havia ouvido falar de um cara chamado Steve não sei do quê, que tinha ficado rico com apenas alguns trocados.

Decidiu ir àquela casa de jogos ao lado da padaria do Zé, que permitia que garotos entrassem. Chegando lá, logo se sentou à mesa. Durante um certo tempo, continuou ganhando todas, e havia embolsado 47 reais e mais algumas moedas.

Um homem carrancudo entrou no recinto, pediu uma bebida e sentou-se. Apostou alto, o malandro. Essa era a chance. Louco para por as mãos na grana, Pedro apelou para seu trunfo secreto, um bando de cartas escondidas no calção.

Só que um capoeirista que estava sentado ali ao lado com um cigarro na boca percebeu o macete do moleque. O que veio a seguir foi uma confusão danada, com muito barulho e cartas voando, e terminando com o espertinho escapulindo pelo meio daquelas pernas enormes que eram os adultos.

Depois de tudo aquilo só lhe restara os mesmos dez reais do começo. Bom, era melhor do que nada, pensou ele, e se dirigiu à doceria.

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