"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas...Continuarei a escrever" - Clarisse Lispector

terça-feira, 22 de junho de 2010

Passageiros





Passageiros


- Mais um copo.

Não vê que "mais um copo" pode se tornar remorso? Não vai responder aos meus olhos suplicantes?

Perder alguém é ruim. Ser perdido também. Se não ama a si mesmo, não desperdice sua vida, pelo menos entregue-a para mim. Vou tentar melhorá-la...

Previna-se prensando no outro, a vida não é só sua. Não vale morrer assim... É proibido... Não vê que te amo?

Todos somos passageiros na Terra. Não torne a viagem mais curta...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Energia verde e amarela





Energia verde e amarela


Que energia é essa?

Pisca verde e amarela. É a copa começando.

Dá para entender? É uma coisa mágica, essa energia que envolve o nosso povo nessa época. Tudo parece mais claro, mais alegre, mais radiante.

Até os dias, que ultimamente estavam cinza e frios, nessa manhã de jogo começou com um belo céu azul e um calor envolvente. E os passarinhos pareciam assobiar nosso hino.

Andando na rua, posso ver a nossa querida bandeira balançando em todas as direções. Penduradas em casas, amarradas em carros, cobrindo a cabeça dos jovens e velhos em forma de bonés e bandanas.

Preocupações com trabalho, provas, dinheiro, escola, doença, brigas, tudo some quando essa energia se ergue das nossas terras de palmeiras, e infecta a todos como uma epidemia. Ninguém escapa.

E me arrepio de excitação em pensar que o Brasil inteiro irá gritar quando a bola entrar no gol. O chão devia até tremer, vibrar com essa paixão nacional.

Bola no pé. As crianças gritam, os adultos brindam. Sorrisos de ponta a ponta, pintados com as cores do país. A brisa balança uma bandeira que parece alegre. A energia é verde e amarela.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Olfato





Olfato


Minha professora doida de redação resolveu levar seus alunos para passear numa praça, e nos mandou concentrar-nos em apenas um dos cinco sentidos para depois escrever um texto.

Sabe o que isso significa? Problema.

Fui pegar um papelzinho para ver qual dos cinco sentidos teria que usar. Uma das bolinhas de papel pareceu brilhar para mim, com se fosse meu destino pegá-la... Brincadeira, peguei um papel aleatório que vi na minha frente.

Olfato.

Viva! Viva! Viva! Já disse que tenho um nariz de cachorro? Minha visão é um desastre, nunca escuto direito o que as pessoas dizem, mas meu nariz é infalível.

Saímos da escola. Eu me concentrava em tudo à minha volta... Passamos por um canteiro, com cheiro de grama recém cortada... Tinha também cheiro de flores... Será jasmim? Um ônibus cuspiu uma nuvem de fumaça na minha cara. Ai que horror!

Chegamos na praça. Andei pela feirinha, olhando os produtos, o farejador em ação... Cheiro de pó... Por que todas essas barraquinhas são tão empoeiradas? Atchim! Não, alergia não!

Passei por um estande de panos. Senti o odor suave de algodão novo. Saco, aquele tio ali está fumando. E depois de madeira sendo lixada... Cigarro de novo? Isso é pastel? Ou cochinha? Fui flutuando para as barraquinhas de comida em busca do cheiro. Mais uma nuvem de fumaça de cigarro interrompeu minha pesquisa.

Terumi parou do meu lado. Cheiro de bebê... De talco... Que gostoso... Espera ai... CIGARRO DE NOVO NÃO!

O cheiro que havia sentido antes era de pastel mesmo... Andei mais um pouco, encontrei uma velha com um cachorro. Meu deus que cachorro gordo! Não chega perto, eu tenho alergia... Que tristeza...

Atchim! Isso é chuva? Sem dúvida cheiro de chuva. Melhor ir embora. O pessoal já está se reunindo. Odeio fumaça de carros. Atchim! Cadê meu anti alérgico?

domingo, 11 de abril de 2010

As folhas não mentem





As folhas não mentem


Quando as portas do céu se abrem, o que posso ver? Talvez um anjo, ou nuvens macias e brancas... Talvez um oásis, fresco e belo. Ou talvez seja você, o príncipe que espero, um espectro sem forma.

Debaixo desta lua, não há o que se possa fazer, além de orar, por que não posso mais vê-lo. Sozinha, na penumbra, minhas lagrimas já secaram. E me contento em ouvir o som da viola ao longe...

Não sei se quebro, ou me desfaço, para alcançá-lo. Não sei se corro, ou se espero, ou simplesmente desisto, Lua brilhante no céu, pode me responder?

As folhas dizem a verdade, noite e dia, foi isso que me disse não é? Tento entender a mensagem que elas sussurram, mas acho que elas apenas caçoam da minha fraqueza. Você se parece com elas...

Olhos nos olhos, quero ver o que você diz. Mas temo a palavra amor, pois ela pode tanto trazer alegria quanto sofrimento. Acabo por me esquecer.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O monstro chamado vestibular





O monstro chamado vestibular


É fato conhecido que o maior temor dos adolescentes é o vestibular. Persegue-os durante as noites, vem estampado nas apostilas, é relembrado todos os dias pelos pais (será que eles não percebem que isso é terror psicológico!?) e ainda é cobrado pelos professores aumentando ainda mais a pressão.

Quando criança eu tinha uma certa idéia do que gostaria de prestar. Perguntavam-me: “o que você vai ser quando crescer?” E eu respondia orgulhosa: “uma geóloga!” Mas agora... O que eu faço!?

Já pensei, repensei, que curso escolher? Não é como fazer “uni-duni-tê” num teste que não sei a resposta, afinal é o meu futuro! Quando paro para pensar no que farei pelo resto da minha vida, sinto um calafrio...

Poderia prestar a minha tão amada geologia, mas... será que eu quero mesmo estudar pedras pelo resto da vida? Ou talvez fazer artes, uma profissão calma e relaxante? E me desespero porque não sei se vou conseguir me sustentar com isso...

Pensei em ser cantora, porém minha voz não tão boa assim. Tive vontade de dar aulas, mas quando vejo meus professores na frente da sala tentando controlar aqueles primatas chamados alunos, me desanimo.

Sou perseguida pela questão, e não consigo decidir. Socorro! Tenho que estudar para o vestibular que ainda nem escolhi, porque não adianta decidir e levar bomba na prova. Só vejo um meio de resolver o problema do futuro emprego e do excesso de estudos: acho que vou casar com um marido rico mesmo...

terça-feira, 30 de março de 2010

Hipocrisia





Hipocrisia


Há tanta miséria nas ruas. Ando triste, olhando para os lados. Não vejo lágrimas, mas sinto elas me cercarem. Meu Deus, por que isso acontece?

Rostos famintos por atenção, por piedade. Será que posso envolver todos eles?

E nos olhos do outro, sonhos que desprezo. Afinal o que há comigo mesma? Não passa de hipocrisia esse aperto no coração, pois o egoísmo nos dominou há muito tempo.

O dia a dia sufoca a alma e parece não haver fim. Esquecemos o que é realmente importante? Aquela criança na sarjeta não deveria estar aquecida em abraços maternos? Não tenho tempo para pensar nisso, já que estou ocupada me preocupando com minha mísera existência.

Eu não tenho forças, mas tenho vozes. Vozes que me fazem questionar por que estou aqui, e não ali onde aquele homem descansa sobre um ralo pedaço de papelão. Mas a coragem me falta.

Assim, se calo, não falo. Talvez as vozes sejam as únicas que me façam despertar. Grito então? Não, preciso de algo maior para chamar a atenção. Opto por uma prece universal, eterna, desesperada. Consegue ouvir?

terça-feira, 23 de março de 2010

Monumento de pranto





Monumento de pranto


Monumento de pranto, movimento lento era aquele que nos embalava naquela valsa que dançávamos os dois, desprovidos de conhecimento. Só nos guiávamos pelo brilho dos olhos e o ritmo longínquo.

Em linhas retas as lágrimas correm em minha face triste e solitária, implorando por um novo começo.

Monumento de pranto, movimento lento, não quero te deixar ir. Por favor, espere mais um pouco. Ainda não falei tudo que tinha para falar.

Terra, não, fogo arde e o ar tranqüiliza. A água é suave, o fogo corta, o ar amacia e a terra endurece.

Enquanto um córrego desce em labirintos, estou aqui sentada ouvindo um hino de igreja ao fundo.

Cada dia mais, me impressiono com tudo que sonho e a capacidade efêmera de tornar isso realidade. Acabo me perdendo sem saber.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Respostas





Respostas


Andava pela areia... Braços relaxados e inertes. O calor penetrava cada espaço do meu ser. Não tinha direção, apenas seguia em frente. A luz ofuscava a visão. Uma gaivota sobrevoava a paisagem.

Que vontade de chorar. Chorar todas as lagrimas do mundo. Onde está? Te procuro por todos os lados. Ainda há algum sentido?

É melhor correr, se não posso perder o que estou procurando. Por que? Não tem resposta. Quero abrir as asas, voar para longe, muito longe. O azul me espera.

Já não há mais passado. Esqueci de tudo, apenas nesse instante. Só há um caminho a frente. Não posso parar. Corro para você sem vê-lo. Um fio de esperança.

Por que não te alcaço? Mas não vou desistir. Por que não vem até mim? Não quero respostas fáceis. Fariam meu sofrimento não ter sentido.

terça-feira, 16 de março de 2010

Fome





Fome

Cheirinho de comida ao chegar em casa.
Casa da avó com os primos.
Um bolo de chocolate enorme.
Reunião com os amigos.
Aquele restaurante caríssimo.
Aquela sexta aula chatíssima.
Aquele resturante barato e aconchegante.
Aquela criança africana.
As pessoas da Ilha das Flores.
Programa de culinária.
Petiscos antes do almoço.
Piscina no sábado à tarde.
Ajudar a mãe na cozinha.
Uma cesta de fruta.
Vontade de comer.

terça-feira, 9 de março de 2010

Se a vida fosse como uma história





Se a vida fosse como uma história


Se a vida fosse como uma história, eu poderia ser a protagonista, persistente e com personalidade forte, sempre expressando suas opiniões e não se deixando levar pelos outros. Otimista e esforçada, lutaria pelos meus ideais e mudaria as pessoas pouco a pouco para algo melhor.

Poderia ser uma princesa, já que muitas delas têm olhos azuis da cor do mar, fios dourados como o ouro descendo pelos ombros, e carregam traços de delicadeza e inocência. Aparentando fragilidade, mas possuindo um coração forte e decidido, sonharia todas as noites com um amor ideal, tão puro e simples, que simplesmente se desenvolveria com a leveza de uma pluma caindo do céu.

Ou talvez fosse um príncipe, corajoso, e mostraria todos os meus belos golpes de capoeira, orgulhoso por praticar uma arte tão nobre, e poder defender as pessoas que eu amo. Montaria num cavalo alazão, e galoparia com uma espada prateada erguida bem alto por todo o reino, só para mostrar o quão bonita e reluzente era a minha imagem.

Poderia ser a melhor amiga daquela jovem apaixonada, e sempre alegre tentando ajudar a companheira, esconderia meus próprios problemas. Tentaria com todas as forças, manter o alto astral no ambiente, nem que para isso tivesse que me passar por boba.

No entanto, mostrando meu egoísmo, teimosia e rancor, me transformaria em um vilão, que perseguido pelos fantasmas do passado, desesperado para encontrar paz, faria crueldades sem pensar nas conseqüências. Todos os meus defeitos viriam à tona, desde a pequena preguiça, até a terrível desconfiança.

Com sorte um herói perceberia meu lado sensível e ferido, e me estenderia a sua mão.
Então minhas virtudes também transbordariam, a sinceridade, a simpatia, a criatividade, todas transparentes como uma fina lâmina de cristal. E, possivelmente, aquele amor com o qual sonhava começasse a florescer...

Pensando bem, poderia ser qualquer coisa, mas ainda não sou nada. Perco-me pensando em qual direção tomar, e me pergunto todos os dias quem sou eu. Porém, no final da historia percebo que posso ser quem eu quiser, é só imaginar, pois a imaginação abre portas para a realidade.

quinta-feira, 4 de março de 2010

O elevador





O elevador


Muitas garotas têm medo de insetos. Outras, horror à altura. Já eu, não me incomodo com os insetos, e acho lugares altos lindos, mas em compensação tenho pavor de elevadores.

Elevadores? Vocês me perguntam. Sim, parece uma coisa boba, porém vou contar-lhes o motivo dessa fobia que me persegue.

Durante a minha quinta serie eu tinha alguns problemas respiratórios, e quando estava num ambiente abafado ou fechado, às vezes tinha falta de ar. Um dia quando saia da minha aula de inglês com mais três amigas, uma delas começou a passar ma,l com tontura e enjôo por causa de cólica. Decidimos pegar o elevador em vez de descer os quatro andares do prédio com a menina zonza.

Na semana anterior o elevador havia quebrado, e fazia poucos dias que estava consertado. Um pouco receosa, me ofereci para chamar um professor para ajudá-la, mas a resposta que obtive foi a seguinte:

- Deixa de ser boba, acabaram de consertar, está melhor do que nunca.

Entramos as quatro no elevador minúsculo, e ele desceu normalmente. No momento em que chegamos ao primeiro andar, sentimos um solavanco, a máquina mortal afundou mais um pouco, e não abriu.

Nervosas, apertamos o botão de alarme, mas ele não funcionava. Como sabíamos que o elevador dava de frente com a cantina da escola, começamos a bater desesperadas na porta, gritando por socorro.

Algumas vozes vieram do lado de fora. Calma, calma, vamos tirá-las daí. Se acalmem. Até parece, quatro garotas de 11 anos presas num elevador com um calor de 36 graus lá dentro, e ainda por cima com uma delas morrendo de cólica. Tudo calmo, com certeza.

Passou-se dez minutos sem qualquer sinal de que sairíamos de lá tão cedo. O clima abafado junto com os soluços de nervoso somaram-se para desencadear a ausência de ar nos meus pulmões. Primeiro, dei algumas fungadas. Depois comecei a puxar o ar com força, mas parecia que ele se recusava a chegar aonde deveria. Vendo-me naquele estado, a outras garotas ficaram ainda mais apavoradas.

Uma delas se empenhou em esmurrar a porta e proferir todo tipo de xingamentos. A outra, que estava com dor, se encolheu em um dos cantos e começou a chorar. E para a surpresa e irritação de todas, a terceira sentou-se no chão, e não parou de dar risada. Ria como se o bute tivesse baixado nela, gargalhava como se tivesse ouvido uma piada de mau gosto muito divertida.

Gritamos com ela, falamos para parar, mas mesmo assim ela ria e ria, parecia uma gralha que fora atingida por uma bomba de gás do riso. Depois de quase uma hora, conseguiram abrir a porta. Saímos tremulas, suadas, no meu caso sufocada, e muito, mas muito bravas. E minha amiga ainda ria, continuou rindo quando fomos para a sala da direção tomar um chá calmante, e continuou rindo quando saímos de lá, um pouco mais baixo e controlado, mas ainda aquele riso irritante e sádico.

Toda vez que olho para um elevador, lembro da cena delas rindo, chorando e xingando, tudo junto, misturado com a falta de ar e o calor, e sinto um calafrio percorrer a espinha. Elevador? Não, obrigado, prefiro as escadas, não fico presa nelas e ainda me exercito.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O vento





O vento

O vento chegou de mansinho.
O vento balançou as folhas.
O vento esfriou a torta.
O vento virou uma brisa.
O vento refrescou o dia.
O vento espalhou a poeira.
O vento tornou-se forte.
O vento derrubou a árvore.
O vento uivou na noite.
O vento levou o guarda-chuva.
O vento atrapalhou a festa.
O vento destruiu a plantação.
O vento espalhou as sementes.
O vento quebrou as telhas.
O vento diminuiu a velocidade.
O vento acalmou-se.
O vento foi-se embora.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dois em um





Dois em um


O odor da grama molhada me instiga. Escuto o leve som dos cascos no chão, suaves, alegres, crescentes. Fecho o zíper da bota, os botões da camisa, cinto na cintura. Visto-me para a guerra, e para um encontro.

Pé no estribo. Subi do chão aos céus. O pelo sob meus pequenos dedos é macio e quente, sedoso. Nesse instante dois se tornam um, e um se torna tudo.

Consegue me ouvir? A resposta vem sem palavras. Não é necessário falar. A brisa é suave. Perfeito.

O som dos cascos se repete. Mais forte, inspirador. Poeira sobe deixando para trás os pensamentos mundanos. À frente, o futuro recente que será atingido.

Lá está ele, digo silenciosamente. Em pé, meu inimigo, esperando para ser ultrapassado. Assim como os problemas, me chama para enfrentá-lo. Abaixo de mim meu outro eu corresponde ao chamado.

Está mais perto, mais, e mais. Conto os passos. São passos? Não, valem muito mais do que simples passos humanos. É a hora. Recebi minha resposta. Saindo do chão, voo para o que espero ser a vitória.

Ultrapassado o inimigo, inexplicável euforia. Nada de relaxar, tem outro à frente. Só desperto mesmo, quando tenho de desmontar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Beija-flor




Beija-flor


Quando ouvimos a palavra beija-flor, pensamos em algo romântico e delicado. Eu gostaria de escrever algo assim, caloroso, mas agora não tenho condições para tal, já que a única coisa que me preenche não passa de um vazio.

A imagem que tenho de um beija-flor nesse momento é da pobre e solitária criatura presa em uma sala sem portas nem janelas, desesperada para escapar.

Assim também me sinto, apesar de tantas pessoas à minha volta. Por momentos tento me convencer da importância delas, mas no fim acabo dizendo a mim mesma que elas não significam nada. E afundo mais ainda.

Às vezes, penso esperançosa em uma mão amiga e quente, estendida em minha direção, para depois tornar a me desiludir. Em outras, até imagino o amor, puro e simples, mas logo percebo que nada é como nos filmes. Começo a enlouquecer.

Desejo apenas ouvir palavras gentis, ser envolvida por braços quentes. Porém, quando tais acontecem, parecem ecoar longe, sem sentido. Meu coração se fechou em si mesmo.

Solidão. Vazio. Nada. Tento me conformar, procuro um modo de fugir. Desisto, não me movo. Medo. Sou uma covarde disfarçada de corajosa, tenho medo do amanhã. Nem mesmo sei a razão de viver.

Como um pássaro que antes voava em liberdade, e subitamente foi preso em uma gaiola, me debato para todos os lados, mas acabo no mesmo lugar. Quero chorar, mas não posso. Quero sorrir, mas não consigo. Tento gritar, mas o silêncio é reconfortante. E apenas uma pergunta me atormenta o tempo todo.

Será que o pequeno beija-flor vai sobreviver?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Como muitos outros





Como muitos outros


Pedro era um garoto mulato, pentelho e folgado, como muitos outros que andavam pelas ruas de Salvador. Mais uma vez passeava pelo calçadão em frente a praia, as mãos no bolso, assobiando e chutando uma pedrinha. As pessoas à volta não lhe davam atenção, afinal era normal garotos na idade dele matando aulas.

Entediado por mais um dia comum, começou a olhar para os lados distraído. E assim acabou vendo-a, caída no chão, uma nota de dez reais novinha em folha. “Caracas, que bonita!” Apanhou-a, sentindo que seu dia melhoraria.

Primeiro pensou em comprar doces, mas depois se arrependeu. “se a vida lhe dá limões, faça uma limonada.” Finalmente o ditado que o professor dissera começara a fazer sentido. Já até havia ouvido falar de um cara chamado Steve não sei do quê, que tinha ficado rico com apenas alguns trocados.

Decidiu ir àquela casa de jogos ao lado da padaria do Zé, que permitia que garotos entrassem. Chegando lá, logo se sentou à mesa. Durante um certo tempo, continuou ganhando todas, e havia embolsado 47 reais e mais algumas moedas.

Um homem carrancudo entrou no recinto, pediu uma bebida e sentou-se. Apostou alto, o malandro. Essa era a chance. Louco para por as mãos na grana, Pedro apelou para seu trunfo secreto, um bando de cartas escondidas no calção.

Só que um capoeirista que estava sentado ali ao lado com um cigarro na boca percebeu o macete do moleque. O que veio a seguir foi uma confusão danada, com muito barulho e cartas voando, e terminando com o espertinho escapulindo pelo meio daquelas pernas enormes que eram os adultos.

Depois de tudo aquilo só lhe restara os mesmos dez reais do começo. Bom, era melhor do que nada, pensou ele, e se dirigiu à doceria.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ENTER





ENTER



No escuro, tudo que via eram os milhões de pixels nos três monitores à minha frente. Haviam sido quase dois dias inteiros para derrubar aquele sistema de segurança. Meus olhos ardiam, meu corpo estava dolorido e cheio de cãibras, mesmo assim um delicioso e cruel sorriso brotava de meu rosto, ilustrando minha satisfação.

Eles iriam pagar. Por tudo que fizeram, iriam pagar caro. Depois daquele golpe, perdi tudo: minha casa, minha empresa, meu amor, meu luxo. Tudo o que restou foram meus melhores amigos, agora parados e acesos bem diante dos meus olhos.

Só faltava apertar uma única tecla. Aproveitei dementemente o momento. Eles estavam acabados.

ENTER.

Não podia ver. Mas sabia exatamente o caos que estava acontecendo. Todos os dados da empresa foram apagados, todas as máquinas enlouqueceram, tudo parou, computadores, elevadores, telefones, energia. Tudo parado, morto.

Uma gargalhada escapou pela minha garganta. E ri, ri, ri, até não agüentar mais. O prejuízo havia sido absurdo, não tinha como eles se recuperarem. Minha vingança estava completa.

Continuei rindo nos próximos dias. E continuei rindo quando quatro policiais arrombaram minha porta e me levaram sob custodia. Não importava que houvessem me descoberto, nada importava, apenas uma coisa. Eles estavam acabados.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Quarta-ferira de cinzas





Obra de arte


Era manhã de quarta-feira de cinzas. As ruas estavam vazias e silenciosas, exceto por dois bêbados deitados na sarjeta. Um folião, ainda fantasiado, estava parado sobre um carro alegórico estacionado na avenida. Ele olha para os enfeites verde e branco, parecendo extasiado.

Sua fantasia, das cores do carro, consiste em uma espécie de saia com armação, coberta de gliter, um capacete de onde saem plumas e penas delicadas e um colete que deixa seu peito à mostra. Realmente, uma obra de arte. Moreno, cabelos longos e pretos saindo de baixo do capacete, alto com o tronco musculoso. Um sorriso brotava de seu rosto, provavelmente alegre com os eventos da noite anterior.



Espetáculo de cores


Está tudo silencioso, mas ainda escuto os gritos e a música da noite anterior, como um disco em minha cabeça. O Sol já havia surgido no horizonte, sua luz refletia no gliter do carro alegórico e da minha fantasia. Um espetáculo de cores, que pareciam tão macias e aveludadas.

Ele era lindo. Os pilares que há algumas horas foram ocupados por belas jovens que sambavam, agora vazios ainda mostravam seu esplendor. A decoração que retratava as matas brasileiras me hipnotizava e impedia que eu tirasse os olhos dela. O carro parecia sorrir. Um sorriso doce e amável, contagiante. Lembrei da dança, da alegria que foi quando ele estava se movimentando, como se tivesse vida própria. Com isso em mente, lhe retribuí o sorriso.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Feitiço contra timidez




Feitiço contra Timidez


Uma coisa que me incomoda há algum tempo é a timidez e o medo que as pessoas têm em tomar atitudes que possam desagradar a outros. Por isso, decidi fazer um feitiço para acabar com isso.

Numa noite de lua cheia, liga-se um CD da banda Red Hot Chily Peppers no último volume, pega-se um caldeirão bem grande (de preferência, de barro) e ferve-se uma mistura de azeite de oliva e água do pântano.

Acrescenta-se pé de cabra, uma roupa de coelhinha, uma bola de boliche, cordas vocais de um sapo, um par de meias sujas, uma dentadura de uma velhinha, picadinho de asa de morcego, um livro do Harry Potter, bonecos do Pokémon, três fios de cabelo da loira do banheiro e erva doce.

Deixa-se essa mistura descansar por duas semanas com o caldeirão coberto por um tapete persa. No primeiro dia da terceira semana, veste-se a roupa de coelhinha, que estava na poção e diz-se as palavras mágicas “pipirupiru piru pipirupi”, enquanto dança-se em volta do caldeirão.

Depois disso, joga-se o caldeirão e seu conteúdo no rio Tietê. Está pronto o feitiço que pode transformar até a pessoa mais tímida do mundo em uma extrovertida cara de pau.

Atenção! O efeito desse feitiço é efêmero. Depois de passar, deve-se tomar coragem para expor suas opiniões e agir como desejar, sem se importar com o que os outros pensam.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Meu ideal seria escrever






Meu ideal seria escrever


Meu ideal seria escrever um texto quanto eu recebesse um sopro de inspiração, uma mensagem divina, um sinal maldito, ou qualquer outra idéia que viesse à cabeça num momento de insanidade. Mas temo dizer, caro leitor, isso é impossível, assim como é impossível eu criar asas e sair voando, por mais que eu devaneie sobre isso todos os dias.

O caso é o seguinte: eu tenho 15 anos. Por conseqüência, tenho de ir à escola, senão meus pais seriam julgados por não dar educação ao futuro do país. Futuro uma ova, os adolescentes de hoje em dia não tão nem ai pra nada... Mas voltando ao ponto principal, como vou à escola, tenho aulas de redação, e como tenho aulas de redação, temo dizer que tenho de conviver com as propostas de textos mais esdrúxulas que um ser humano pode criar.

Como uma proposta estúpida feita no ano passado, descreva seu lugar favorito. Tá na cara que não é na escola. É obvio que as redações seriam na balada, na Lan-House, no meu quarto onde meus pais não me enchem, ou em alguns casos, naquela esquina com meus manos... Não podiam dar uma proposta com resultados menos previsíveis?

Outro exemplo são aquelas que SEMPRE aparecem nos vestibulares. Disserte sobre o aborto/eutanásia. Por que nos mandam dissertar sobre uma coisa que NINGUEM tem opinião formada? Chego à conclusão de que todo professor é sádico (à minha querida professora que vai ler isso, não é nada pessoal, só estou expondo os fatos).

Um dia abri a apostila, empolgadíssima, doida pra escrever algo. Olhei o tema. Passei o resto do dia de mau humor. Outro dia, fale sobre traição. A perspectiva era tão ruim que depois de escrever sentia que tinham dois chifres brotando da minha testa. Crie uma narração usando o personagem dado. O personagem não é meu, quem o criou é que devia escrever a historia. Os meus personagens são mais interessantes, prefiro escrever sobre eles, obrigada.

E ainda tem as clássicas. Fale sobre o aquecimento global, sobre tecnologia, relação aluno/professor, a juventude de hoje, destruição da mata atlântica, e por ai vai. Redações com esses temas pingam na internet, revistas, jornais, e tudo quanto é mídia. Por mais que você tente ser criativo e inovador, os textos sempre parecerão repetitivos, comuns, com aquela impressão de eu acho que já li isso antes...

Quem me dera receber propostas empolgantes, que ao ler fizessem explodir milhões de idéias na minha cabecinha obliqua e limitada... Parece que estou sonhando de novo. Melhor desistir de uma vez...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Dama cruel





Dama cruel


Uma confusão. Tudo gira, treme, arranha, pula, vai de um lado para o outro e enlouquece. Tenho 15 anos.

Sempre tive problemas com o crescimento, a perspectiva de mudanças me amedronta. Mas nada teve um impacto em mim como essa dama, cruel e nem um pouco sutil, chamada adolescência.

Para nós, garotas, chega mais cedo, num grande baque. Nada mais é igual, nosso corpo nos surpreende, os moleques irritantes começam a ser vistos com novos olhos e nos sentimos perdidas num redemoinho de fogo que é nossa mente.

E eis que surge um dos nossos maiores inimigos: as espinhas. Aparecem onde e quando não deviam, incham, doem, e tentamos desesperadamente nos livrar delas com cremes e sabonetes. Tudo debalde, elas sempre voltam.

Os garotos entram na fase insuportável, e nos provocam até explodirmos, para depois rirem e perguntarem se estamos de TPM ou algo do tipo. Mesmo assim, por mais que sejam retardados e imaturos, um deles acaba atraindo nossos olhares; que frustrante.

O primeiro amor é uma tortura, um veneno se infiltrando em suas veias sem você possuir o antídoto. Um mero “olá” desencadeia uma tremedeira e um coração disparado. Não se sabe lidar com o novo sentimento.

Mergulhados um meio desse turbilhão de sensações e hormônios (infelizes desencadeadores de espinhas), nossos pais não conseguem nos entender, apenas perguntam o que fizeram de errado e tentam nos mandar a psicólogos. Não importa o quanto tentemos explicar, eles dizem que você é um rebelde sem causa e que devia dar valor ao que tem.

Parece que eles se esqueceram de como era estar nesse campo de batalha. Quando for mais velha, talvez também esqueça. Por isso, deixo aqui gravadas minhas memórias para futuramente relembrar de minha adolescência e não cometer os mesmos erros com meus filhos.

OBS.: As chances de eu perder a folha com esse texto na próxima semana são extremamente grandes, portanto não faz o menor sentido escrever isso, mas ainda assim o fiz, afinal, todo jovem nessa idade é contraditório. Adolescência é fogo.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Refugio da criatividade





Refugio da criatividade


Mas que sensação boa, fugir da realidade, apenas ao fechar os olhos, um mundo infinito surge diante de mim. Doce imaginação, abre portas para um universo de sonhos e liberdade.

Um céu estrelado azul da cor do mar, pode virar uma explosão de cores, que cantam suavemente, me chamando para explorar mais ainda seu interior.

Que lugar mais agradável. Posso fugir para lá a qualquer momento. Todos os problemas se tornam asas, que gentilmente me acolhem e me levam a um voo do qual não quero mais pousar.

Repleto de magia, meu último refugio parece um dia ensolarado, mas também um turbulento furação, arrastando o que encontra pela frente. É pura ficção, um áspero macio ao toque, quente mas refrescante, sonhos se tornando realidade, vida desabrochando.

Há um jardim, onde ideias de todo tipo florescem, e se entrelaçam formando uma teia, que gosto de chamar de criatividade. Ao fundo, erguem-se frondosas cerejeiras. Seus tronos hirtos, fazem contraste com seus galhos flexíveis, que balançam ao vento. Dentro de cada uma de suas flores rosadas há um caminhos diferente que leva a algo novo. Nem todos são bons, mas amo a liberdade de poder escolhê-los.

Apenas após conhecer e solidão que o encontrei. Mergulhar nele para escapar da vida real foi o modo que achei para sobreviver. Hoje, tornou-se meu parque de diversões para rir, brincar, criar. De todos os lugares, onde me sinto melhor, impossível descrever com palavras, é a minha mente.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Corações distantes





Corações distantes


Nos olhares dos dois, que novamente se cruzavam, havia um grande contraste. Os do primeiro, azuis como a mais bela safira, refletiam sua determinação e coragem, brilhando intensamente ao ver o velho amigo, enquanto os do outro, feitos do negror do céu noturno, num tom de sarcasmo, pareciam não se importar com a presença do companheiro.

Os sentimentos há muito tempo guardados em seu peito, agora estavam prestes a explodir, mas, mesmo assim, ele aparentava estar controlando-os; ao mesmo tempo, parecia querer chamar a atenção do outo numa súplica silenciosa.

Mas seus corações estavam diatantes. O de um, visando a vingança e coberto por um manto de ódio, não compreendia o do segundo, que, apesar da traição, almejava, mesmo que à força, trazer o outro de volta para seu lado.

Seus sentimentos antagônicos ferviam. O clima entre os dois mostrava que sua rivalidade nunca morreria. Mas, não seria como antes, pois, apesar de próximos, anos luz os separavam. O elo entre os dois de tornara decépito, e novamente eles se preparavam para lutar, desta vez no Vale do Fim.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Uma sinfonia poderosa



Uma sinfonia poderosa


Quando criança, não me interessava pelas palavras. Mais ligada a artes e história, aborrecia-me com tantas regras gramaticais, que as professoras teimavam em nos fazer decorar, as quais para mim não faziam o menor sentido. Eu não via o porquê de ser tão importante a leitura e a escrita.

Então, um dia, enquanto fazia uma lição na biblioteca, vi algo que me chamou a atenção. Era um livro, sobre uma aventura policial, que se passava no Egito. Mesmo sendo acima do meu nível de conhecimento, com um vocabulário difícil, não resisti em emprestá-lo.

Munida de um dicionário, comecei a leitura. Um mundo novo se abriu para mim, as palavras eram como uma música enchendo meus ouvidos. As cenas iam passando diante dos meus olhos como se eu visse um filme. O que antes era para mim apenas um amontoado de letras, agora era vida, movimento, cultura, magia.

Comecei a ler mais e mais, e a cada instante mais me apaixonava. Comecei a ver palavras não só em livros, mas em objetos, ações, imagens, tudo se formava como uma sinfonia. Mas eu não sabia o verdadeiro poder das palavras.

Foi então que ouvi falar de uma pessoa. Tão bem conhecia as palavras, que apenas com elas conseguiu convencer um país todo de que eles eram a raça perfeita, e que deveriam dominar o mundo.

Olhei à minha volta, e percebi o quão poderosas as palavras poderiam ser. Elas manipulavam, confundiam e dominavam. Bradadas por seus maiores conhecedores, movem multidões que, desprovidas do conhecimento destas, não possuem senso crítico, e são muito vulneráveis.

As palavras não possuem um lado na guerra. Não são o bem nem o mal. O que existe são pessoas que as usam para esses fins. Podem gerar lutas e salvar vidas, destruir e criar. Só depende de nós como vamos usá-las.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Arte de seguir em frente




Arte de seguir em frente



Há algum tempo, minhas emoções me confundiam. Decidi que meu modo se seguir adiante não estava dando certo e que teria de fazer uma revolução.

Li em um lugar que nós temo duas sacolas, as quais carregamos uma na nossa frente, preenchida com nossas qualidades, e outras nas nossas costas, lotada com os defeitos.

Trancada em minha mente, coloquei meu plano em ação. As duas sacolas, esvaziei totalmente. E comecei a pensar. O que eu queria? Demorou um tempo, mas encontrei a resposta. Queria amigos, queria esquecer dos problemas, queria aproveitar mais a vida que estava perdendo.

Com minhas sacolas de virtudes, comecei a trabalhar. Para as qualidades, coloquei alegria, carisma, persistência, otimismo, criatividade e simpatia. Queria rir a qualquer hora, então lá atirei o bom humor e a autoestima.

Claro que não podia deixar a sacola de defeitos vazia. Nela, joguei a teimosia, a infantilidade, a desatenção, um pouco de grosseria, muita impaciência, preguiça e desconfiança. Pareciam grandes defeitos, mas teriam bons resultados na minha idéia final.

Olhando quase satisfeita para meu trabalho, percebi que no canto estava jogado um pedacinho de personalidade, da cor vermelho rubi. Ao me aproximar, percebi o que era. Meu velho amigo ódio, que antigamente me perseguia por todos os lados, torturando e afundando minha vida num abismo escuro. Com um sorriso largo, tratei de me livrar dele, para nunca mais vê-lo novamente.

Naquela sala quadrada em minha mente, com o chão e as paredes quadriculadas de preto e branco, olhei minha obra prima. Senti que ainda faltava algo, até ver o que estava diante de meus olhos. Coragem. Coragem necessária para resistir às reviravoltas da vida, coragem para seguir em frente. Sorrindo mais ainda, não a coloquei em minha sacola, mas sim sobre minha cabeça, para ter certeza de que nunca me esqueceria dela, e me levantei, para caminhar com muito mais vontade